quinta-feira, 28 de abril de 2011

Projeto de preservação da caatinga no Vale utiliza esgoto tratado como fertilizante



Região com vocação para a produção cerâmica, o Vale do Açu começa a escrever uma nova página em relação à convivência sustentável entre a indústria ceramista e a vegetação nativa. Com a participação da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) e mais quatro instituições, IFRN, Embrapa, ONG Carnaúba Viva e Associação Norte-Riograndense dos Engenheiros Agrônomos (Anea) foi lançado nesta quinta-feira (28), o Projeto “Caatinga Viva”, no auditório da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) em Assu. A iniciativa, E que vai transformar resíduos em energia tem a adesão de empresários do setor, carnaubeiros, agricultores familiares e estudantes e representará a substituição da lenha de árvores da Caatinga pelo briquete, carvão ecológico a ser produzido a partir de capim, folhas de carnaúba e restos de podas de fruteiras. O capim será irrigado com esgoto tratado, o que pode impulsionar uma política estadual de reuso de efluentes.

“Temos a satisfação de participar deste passo importante para a preservação da natureza, com o conhecimento produzido por nossa empresa, que além de abastecimento e saneamento, também se insere na preservação ambiental”, destacou o diretor técnico da Caern, Ricardo Varela, que falou para uma plateia composta de lideranças políticas, pesquisadores, técnicos e estudantes secundaristas. Ao seu lado estavam Adriana Oliveira (gestora do programa Petrobras Ambiental), José Ivan Leite (pró-reitor de Pesquisa do IFRN), Socorro Oliveira (delegada regional do Ministério do Desenvolvimento Agrário no Estado), Auricélio Costa (Anea), entre outras autoridades, que entre vídeos sobre o projeto, também assistiram a apresentação do coral da Caern, o “Som das Águas”.

Em uma área de 15 hectares próxima à lagoa de estabilização da Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) de Pendências, haverá testes que devem comprovar com o plantio de cinco espécies de capim, entre elas a elefante, que tem desenvolvimento superior à vegetação nativa em crescimento, potencial energético para o desenvolvimento da cultura com matriz energética. Técnicos da Caern, IFRN e Embrapa irão experimentar o potencial de cada uma delas quanto ao poder energético, biomassa e capacidade de reprodução. Este campo de testes pode ser ampliado em mais 45 hectares. Esse insumo que tomará o lugar da lenha da Caatinga, cada vez mais rara no Vale, vai ajudar a gerar inicialmente 15 empregos na fábrica de carvão ecológico a ser instalada na unidade do IFRN em Ipanguaçu.

A fábrica vai evitar a destruição de 403 hectares de caatinga e suprir 90% da necessidade de matéria-prima para os fornos do parque ceramista local. “Temos honra de estar patrocinando esta ação, que juntou tantos parceiros importantes, tem a participação da sociedade e passou por um funil nacional entre mais de 900 propostas que recebemos”, frisou Adriana. O projeto, que será gerido pela ONG Carnaúba Viva, receberá R$ 3,3 milhões da Petrobras, mas com o apoio de outros parceiros o valor sobe para R$ 4 milhões.

SOLUÇÃO

O potiguar Sílvio Tavares, da Embrapa Solo, engenheiro criador do “Caatinga Viva”, lembrou que a ideia começou a ser desenvolvida há dois anos, quando foi identificada uma nova rota tecnológica para o modo de produção energética no Vale do Açu, diminuindo os crimes ambientais atualmente praticados na região. Ele agradeceu a participação de todas as instituições envolvidas na pessoa de Adriana Oliveira, gestora do programa Petrobras Ambiental, principal financiadora desta ação científica, econômica e social. E disse que a participação da Caern agrega com o alto nível de seus técnicos, importante contribuição na parte de inovação contida no projeto. A Companhia vai testar o reuso de esgoto tratado como fertilizante de capim.

Presidente do Sindicato da Indústria de Cerâmica no RN, Vargas Soliz Pessoa, que individualmente emprega 55 trabalhadores em sua empresa, comemora o cenário desenhado pela iniciativa. “O briquete funciona, já foi testado, e com ele não teremos os custos de trazer lenha de tão longe, sobretudo com o frete”, adianta o empresário. A atividade de produção de telhas, tijolos e lajotas, com a preservação ambiental, deverá manter os atuais 1.200 postos de trabalho gerados na região.

O projeto deve contemplar até mesmo quem hoje contribui para o extrativismo incorreto da vegetação nativa. Segundo Dario Nepomuceno, diretor geral da ONG Carnaúba Viva, uma das possibilidades previstas é a de aproveitar a mão de obra das pessoas que transportam lenha em seus caminhões para que passem a fazer o escoamento da biomassa que será transformada em briquete. “Devemos assistir a recuperação de mata nativa em 100 hectares”, vislumbra o dirigente da organização.
 
 
Por: Juliano Freire - ASC - CAERN

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